8° carta

( Blindness, 2008)

"Dorinha!!!

Ah... Quanto tempo sem escrever a ti! E quanto tempo sem receber de ti alguma noticia.

As coisas... As coisas estão bem. Mamãe ainda possui algo de doce juventude, papai esconde a sua louca vontade de abraçar os filhos, e Horácio ainda com seus olhos carentes de afeto.

O mar. Disse a ti que iria ver o mar? Claro, molhei apenas os pés... Acredita que até hoje não aprendi a nadar?!

Vi muita gente. Alguém me disse que as pessoas não são tão assustadoras quando as conhecemos. Descobri que é verdade, mas ainda assim é preciso ter cuidado, algumas ainda são capazes de cometer maldades. Não conhecem a gentileza.

Não resisti à muitas delicias e vi muitas coisas bonitas.

Um dia Doralice, quero levar- te comigo para nos aventurarmos no desconhecido do mundo! Ah! E nada de malas pesadas!!! É difícil subir escadas com elas e muitas vezes as pessoas não são generosas para ajudar a carregar. Cada um deve dar conta do peso da sua. Devemos ter cuidado com os excessos...

Um abraço apertado...

Ass.: Eulália

Obs.1: Caso não saiba:

Gentileza: Delicadeza, educação, elegância, amabilidade.

Obs.2: Acredita que esqueci como se anda de bicicleta?

Obs.3: Trouxe um pouquinho do mar para mostrar a ti.

"

7° carta

( Os garotos da minha vida, 2001)

"Dora!

Como demoraste! Tive a sensação da eternidade.
Recuperadas algumas das minhas palavras, posso escrever à ti novamente. Talvez eu não demore muito, e talvez tu demores um pouco a compreender, já que ainda não recuperei o suficiente.
Estive com Amália. Conversamos sobre o amor. Temos a sensação de que mentira maior não há.
As pessoas fingem amar.
Já amaste Dora? Ou tu também és uma fingidora?

Amar sozinho é fácil*

Como saber a grandeza de tal sentimento se é mais fácil fingir o amor que encontrar alguém que ame junto?

Hoje vou mandar- te um abraço bem apertado.

Eulália

Obs.1: * sim... amar sozinho é fácil, embora seja insustentável.

Obs.2: Na próxima semana irei ver o mar... "

6° carta

( O curioso caso de Benjamin Button, 2008)

"Doralice,

Desculpe a demora para enviar minha resposta a ti. Ando vazia ultimamente. Gastei demais minhas palavras e tu não me devolveste a metade delas. Ainda.

Estou (a)guardando.

Ass.: Eulália"

5° carta

(Nunca fui beijada, 1999)

"Ai Doralice!

Apesar de ser inverno, o sol está intenso! O dia ainda consegue me aquecer, mas quando é noite ele adormece.

José Leocádio está ótimo. Foi morar na cidade grande! José Aparecido continua o mesmo, e está estudando. José Alencar continua muito responsável e correto. Vão ser grandes homens!

Já contei à ti sobre o principe? Um dia encontrei-me com um.

Ele sorriso, eu encantada. Algumas palavras... poucas! O silêncio. E... que bom que existe o beijo.

Te conheço desde sempre.

Ah Dorinha! Os príncipes são sempre sapos, e os sapos nem sempre são príncipes!

Um cheiro!

Ass.: Eulália*

Obs.: Romântica*"

4° carta

( Diários de motocicleta, 2004)

"Dora,

Andas tão econômica com tuas palavras... Tua ultima carta não passou de um bilhete:

Querida Eulália,

Queria ter nascido somente Alice. Mas nasci mulher.

Ass.: DORalice

Não consigo ser tão objetiva como tu és, mas vou tentar também economizar minhas palavras, elas não passarão de sussurros:

Ainda planejo viajar pelo mundo*.

Ass.: EUlália

Obs.: Que não seja o meu*."

3° carta

( O Diário de Bridget Jones, 2001 )

"Doralice!

Como demorastes a me escrever! Mamãe estava em tempo de ter um ataque! O que aconteceu? Esquecestes minha carta no fundo de uma das tuas gavetas ou foram as pedras que dificultaram que minha carta chegasse à ti, dificultando também que tua resposta chegasse à mim? Não interprete isso como um puxão de orelhas, é que me acostumei a receber palavras tuas... ainda que tenha recebido apenas duas de tuas cartas...

Ainda tenho aquela velha mania. Tu sabes como é dificil se livrar de velhas manias!

Espero que compreendas...Acordei hoje de mau humor. Deve ser esse inverno interminável!

Um abraço meu!

Ass.: Eulália

Obs.: Hoje, sem observações!"

2° carta

( Juno, 2007)

"Doralice!

Fiquei radiante ao receber sua carta e ao saber que também aí, as coisas tropeçam mas caminham. Parece que as pedras se multiplicaram ao longo dos anos.

Hoje, remexendo umas fotografias antigas, sentindo o cheiro da naftalina que mamãe coloca pra espantar as baratas, lembrei-me de quando éramos pequeninas, eu gordinha e você  magricela. Meu uniforme da escola era um daqueles shorts azuis com listras brancas do lado, meias e tênis pretos e blusa branca, enquanto o seu era todo azul e ainda uma linda saia de pregas... ah! Doralice, você não sabe o quanto eu gostaria de usar um uniforme como o seu naquela época! Lembro-me ainda que você tinha os cabelos até a cintura dourados, enquanto os meus além de muito encaracolados nunca passaram da altura dos ombros!

Era muito mais esperta que eu... brincávamos juntas, mas você sempre foi mais livre.

Lembr daquele dia em que brincávamos no balanço na casa de vovó e rolamos juntas morro abaixo?

Ah, Dorinha( ainda posso te chamar assim?)... bons tempos aqueles!

Sim, sim, eu e nossas fotografias vamos continuar esperando por sua visita e pelo meu suéter de lã, e se ainda for inverno, com uma bela xícara de café fumegante. Talvez papai resolva fazer aqueles pães de doce que tanto gosta.

Um abraço e um beijo meus, de papai, mamãe e de Horácio, que já está um homem feito!

Ass.: Eulália

Obs.: Ainda preciso dormir de meias para aquecer os pés."

1° Carta

( O fabuloso destino de Amelie Poulain, 2001)

"Querida Doralice!

Sinto saudade! Por aqui as coisas tropeçam, mas ainda assim, caminham! Ainda que com menos intensidade que em outros tempos, é inverno. Faz frio no final da tarde e piora quando anoitece. A lua continua linda nos seus elegantes trajes de inverno; a cama fica ainda mais gostosa quando o relógio desperta pela manhã, e consequentemente fica ainda mais difícil abandonar os lençóis. Continua difícil entrar no chuveiro, e ainda mais difícil sair debaixo dele, e depois, o espelho ainda fica embaçado pelo vapor de água quente.

Continuo trabalhando e estudando bastante. E sonhando também.

Não, não. Não estou namorando.

Ainda gosto de pintar as unhas e passar "pintura" na cara, como toda mocinha!

Pretendo escrever a você com mais frequência ainda que não tenha grandes notícias para enviar. E espero que me escreva sobre grandes aventuras, ainda que as cartas sejam curtas! Vamos trocando figurinhas, como nos velhos tempos!

Um grande abraço meu!

Ass. Eulália

Obs.: E aquele suéter que tu me havias prometido no inverno passado?

Obs. 2: Ainda não me canso de assistir aqueles velhos filmes. "