
(
Juno, 2007)
"Doralice!
Fiquei radiante ao receber sua carta e ao saber que também aí, as coisas tropeçam mas caminham. Parece que as pedras se multiplicaram ao longo dos anos.
Hoje, remexendo umas fotografias antigas, sentindo o cheiro da naftalina que mamãe coloca pra espantar as baratas, lembrei-me de quando éramos pequeninas, eu gordinha e você magricela. Meu uniforme da escola era um daqueles shorts azuis com listras brancas do lado, meias e tênis pretos e blusa branca, enquanto o seu era todo azul e ainda uma linda saia de pregas... ah! Doralice, você não sabe o quanto eu gostaria de usar um uniforme como o seu naquela época! Lembro-me ainda que você tinha os cabelos até a cintura dourados, enquanto os meus além de muito encaracolados nunca passaram da altura dos ombros!
Era muito mais esperta que eu... brincávamos juntas, mas você sempre foi mais livre.
Lembr daquele dia em que brincávamos no balanço na casa de vovó e rolamos juntas morro abaixo?
Ah, Dorinha( ainda posso te chamar assim?)... bons tempos aqueles!
Sim, sim, eu e nossas fotografias vamos continuar esperando por sua visita e pelo meu suéter de lã, e se ainda for inverno, com uma bela xícara de café fumegante. Talvez papai resolva fazer aqueles pães de doce que tanto gosta.
Um abraço e um beijo meus, de papai, mamãe e de Horácio, que já está um homem feito!
Ass.: Eulália
Obs.: Ainda preciso dormir de meias para aquecer os pés."